As
rebeliões nos presídios do Maranhão reabriram o debate sobre a violação
dos direitos humanos e fizeram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)
determinar inspeções em vários presídios do país. Na manhã desta
sexta-feira, 24, três comissões da ordem entraram no Instituto de
Administração Penitenciária (Iapen). Chamaram a atenção principalmente a
superlotação e a falta de serviços essenciais como ginecologista no
presídio feminino.
A
inspeção começou por volta das 9 horas da manhã. O presidente da OAB,
Paulo Campo, estava acompanhado das comissões de Direitos Humanos, da
Advogada Mulher e de Jovens Advogados do Amapá.
Na visita às celas não
faltaram reclamações sobre a falta de assistências médica e jurídica,
superlotação e maus tratos. Apesar dos pavilhões visitados estarem
limpos, havia moscas circulando no ambiente. O teto baixo aumenta a
sensação de calor. O cheiro de fumaça de maconha também domina os
corredores e celas dos pavilhões. Um preso denuncia: “Isso tava imundo,
cheio de lixo no corredor, até fezes estavam espalhadas, só limparam
porque sabiam que vocês vinham nos visitar”.
Os
presos provisórios (que ainda não foram julgados) foram ouvidos e
denunciaram os maus tratos. “Eles nos deixam com fome, não deixam a
gente receber visitas e se reclamamos ainda nos espancam”, revelou o
detento.
As
mazelas que assolam o sistema penitenciário amapaenses são mais
acentuadas no presídio masculino do que no feminino. “Na ala masculina
vimos a superlotação, mais reclamações de violência cometida por
carcereiros e eles reclamam muito de serem proibidos de ter assistência
jurídica”, explicou o vice-presidente da comissão de Direitos Humanos,
Rubens Bulhosa.
No
pavilhão onde ficam os presos enfermos, além dos problemas habituais,
há reclamação por causa da falta de assistência médica, falta de
medicamentos e funcionários capacitados. “Na última visita já tínhamos
constatado esses problemas. A diretoria do instituto ampliou a estrutura
física e o corpo de funcionários, mas como o número de detentos cresceu
os problemas se agravaram”, ponderou o tesoureiro da OAB Evandro
Salvador.
A
ala feminina comporta 125 detentas, a infraestrutura é mais limpa,
organizada e com outras reivindicações. “É visível pela própria natureza
feminina a organização do espaço. As reclamações que estou ouvindo são
falta de ginecologista para atender as mulheres, falta de remédios para o
período menstrual e violência física”, esclarece a presidente da
Comissão da Advogada Mulher, Mara Christian.
As
maiores violações dos direitos humanos no Iapen estão no pavilhão onde
estão os presos mais perigosos. O advogado Paulo José foi o único da
comissão a visitar o lugar. “A situação é crítica e compromete a vida de
todos nesse pavilhão”.
A
inspeção no instituto mostrou as péssimas condições das refeições dos
presos. “A comida é pouca, houve reclamações que ela atrasa muito, sem
contar a falta de água. Uma mulher reclamou que passou mal por falta de
água, que condições humanas são essas?”, indagou a advogada da OAB,
Lidiane Frota.
Na
penitenciaria feminina há quatro salas de assistência à saúde, uma com
remédios e outras três de atendimentos. Segundo a diretora em exercício
do Iapen, há consultas semanais. “Segunda e sexta-feira há consultas com
o clínico geral.
Não temos ginecologista, mas encaminhamos todas com
escolta policial para atendimento no Hospital Geral”, confirmou a
Josiane Carvalho. As detentas negam a informação. “Consulta? Não sei que
consulta! Não vemos um médico há mais de seis meses”, revelaram às
comissões.
“Tudo que constatamos na ala masculina e feminina será
registrado em relatório e encaminhado para o estado tomar providências
cabíveis”, afirma o presidente da comissão de Direitos Humanos, Marlon
Azevedo.
Seles Nafes
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