segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sarney, 23 anos de Senado pelo Amapá, pouco fez pelo Estado que o acolheu

A repórter Maria Lima, do jornal O Globo, conseguiu resumir em apenas uma matéria a trajetória política do senador José Sarney no Estado do Amapá como poucos fizeram. Mas, pensando bem, isso não foi uma tarefa muito difícil. Como ficou claro na reportagem, tudo que o senador pemedebista fez pelos amapaenses cabe em poucas linhas e, uma única matéria, é mais do que suficiente para tal registro.

Partindo da constatação que Sarney pouco – ou quase nunca – vem ao seu domicílio eleitoral, a jornalista revela que, além da ausência no Estado, o senador, para o qual os amapaenses conferiram três mandatos consecutivos, pouco fez por merecer a confiança depositada nele. Segundo a matéria, apenas uma emenda parlamentar de sua autoria chegou a seu destino – R$ 743 mil, para o Hospital Sarah Kubitischek –, muito pouco para 23 anos de Senado.

Promessas não cumpridas

Não passou despercebido da repórter o esqueleto de aeroporto que todo visitante se depara logo ao desembarcar em Macapá. Ela o cita como exemplo das promessas não cumpridas de Sarney e, o que é pior, mostra que tipo de gente cerca o senador.
Em 2007, o Tribunal de Contas da União (TCU) verificou que quase a metade dos recursos destinados à reforma do aeroporto, cerca de R$ 55 milhões, foi desviada, e a empresa Gautama, responsável pela obra, foi pega na operação Navalha da Polícia Federal. De lá para cá, tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes.

Perseguição e mentira

Ouvido pela reportagem, o ex-governador e atual senador João Capiberibe (PSB) declarou que, quando governou o Amapá, só pôde contar com recursos oriundos dos repasses constitucionais. Segundo ele, Sarney não permitia que a União repassasse qualquer outro recurso federal para o Estado.
O senador Randolfe Rodrigues, que a matéria afirma que tem uma relação amistosa com Sarney, além de cobrar dele uma presença maior no Estado, afirmou – com todas as letras – que "se ele disser que atua pelo Amapá aqui em Brasília, está mentindo. Desde 2011, não o vejo em reunião de bancada".

Carona

Em sua defesa, José Sarney listou uma série de ações e obras que beneficiariam o Amapá que disse ser de sua autoria ou de ter participado da aprovação.
Sarney só não disse que, nos oito anos em que o Estado foi governado por seus comandados, o Amapá passou a ser conhecido nacionalmente como campeão em operações da Polícia Federal; que não foi aberto um leito hospitalar sequer para atender a crescente população amapaense; que o Estado não conseguiu avançar na construção de uma infraestrutura logística que permitisse o seu desenvolvimento sustentável. Essas, e outras coisas, ele não disse, mas a população do Estado ainda sofre as consequências do descalabro administrativo que imperou neste período.

Apoio

Ele, o senador Sarney, também disse que tem o apoio das "maiores lideranças do Estado". Com certeza Sarney não estava falando nem do governador Camilo (PSB), nem do prefeito Clécio (Psol), nem dos senadores Capiberibe (PSB) e Randolfe (Psol) – todos, declaradamente, seus adversários políticos –, nem tão pouco do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Júnior Favacho, que é do PMDB, mas que não compareceu à recepção anual oferecida à classe política pelo senador. Então, resta perguntar: Quais são as "lideranças estaduais" que realmente estão lhe apoiando?

Sob suspeita

Para tentar demonstrar reconhecimento popular, Sarney disse que tem 50,6% das intenções de votos do eleitorado amapaense aferidos em uma pesquisa que teria sido realizada em dezembro de 2013. Acontece que, dois meses anteriores a tal pesquisa citada pelo senador, o instituto GPP também realizou uma pesquisa – divulgada na coluna do jornalista Felipe Patury, da Revista Época –, onde ele aparece em oitavo e último lugar. "A intenção de voto em Sarney caiu de 10,6% em julho para 6,2% na última aferição. O senador também enfrenta uma rejeição alta: 62,5%", afirma o colunista. De onde se conclui que alguém está mentindo.




Sérgio Santos | MZ

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