A repórter Maria Lima, do jornal O Globo, conseguiu resumir
em apenas uma matéria a trajetória política do senador José Sarney no
Estado do Amapá como poucos fizeram. Mas, pensando bem, isso não foi uma
tarefa muito difícil. Como ficou claro na reportagem, tudo que o
senador pemedebista fez pelos amapaenses cabe em poucas linhas e, uma
única matéria, é mais do que suficiente para tal registro.
Partindo da constatação que Sarney pouco – ou quase nunca – vem ao
seu domicílio eleitoral, a jornalista revela que, além da ausência no
Estado, o senador, para o qual os amapaenses conferiram três mandatos
consecutivos, pouco fez por merecer a confiança depositada nele. Segundo
a matéria, apenas uma emenda parlamentar de sua autoria chegou a seu
destino – R$ 743 mil, para o Hospital Sarah Kubitischek –, muito pouco
para 23 anos de Senado.
Promessas não cumpridas
Não passou despercebido da repórter o esqueleto de aeroporto que todo
visitante se depara logo ao desembarcar em Macapá. Ela o cita como
exemplo das promessas não cumpridas de Sarney e, o que é pior, mostra
que tipo de gente cerca o senador.
Em 2007, o Tribunal de Contas da União (TCU) verificou que quase a
metade dos recursos destinados à reforma do aeroporto, cerca de R$ 55
milhões, foi desviada, e a empresa Gautama, responsável pela obra, foi
pega na operação Navalha da Polícia Federal. De lá para cá, tudo ficou
como dantes no quartel de Abrantes.
Perseguição e mentira
Ouvido pela reportagem, o ex-governador e atual senador João
Capiberibe (PSB) declarou que, quando governou o Amapá, só pôde contar
com recursos oriundos dos repasses constitucionais. Segundo ele, Sarney
não permitia que a União repassasse qualquer outro recurso federal para o
Estado.
O senador Randolfe Rodrigues, que a matéria afirma que tem uma
relação amistosa com Sarney, além de cobrar dele uma presença maior no
Estado, afirmou – com todas as letras – que "se ele disser que atua pelo
Amapá aqui em Brasília, está mentindo. Desde 2011, não o vejo em
reunião de bancada".
Carona
Em sua defesa, José Sarney listou uma série de ações e obras que
beneficiariam o Amapá que disse ser de sua autoria ou de ter participado
da aprovação.
Sarney só não disse que, nos oito anos em que o Estado foi governado
por seus comandados, o Amapá passou a ser conhecido nacionalmente como
campeão em operações da Polícia Federal; que não foi aberto um leito
hospitalar sequer para atender a crescente população amapaense; que o
Estado não conseguiu avançar na construção de uma infraestrutura
logística que permitisse o seu desenvolvimento sustentável. Essas, e
outras coisas, ele não disse, mas a população do Estado ainda sofre as
consequências do descalabro administrativo que imperou neste período.
Apoio
Ele, o senador Sarney, também disse que tem o apoio das "maiores
lideranças do Estado". Com certeza Sarney não estava falando nem do
governador Camilo (PSB), nem do prefeito Clécio (Psol), nem dos
senadores Capiberibe (PSB) e Randolfe (Psol) – todos, declaradamente,
seus adversários políticos –, nem tão pouco do presidente da Assembleia
Legislativa, deputado Júnior Favacho, que é do PMDB, mas que não
compareceu à recepção anual oferecida à classe política pelo senador.
Então, resta perguntar: Quais são as "lideranças estaduais" que
realmente estão lhe apoiando?
Sob suspeita
Para tentar demonstrar reconhecimento popular, Sarney disse que tem
50,6% das intenções de votos do eleitorado amapaense aferidos em uma
pesquisa que teria sido realizada em dezembro de 2013. Acontece que,
dois meses anteriores a tal pesquisa citada pelo senador, o instituto
GPP também realizou uma pesquisa – divulgada na coluna do jornalista
Felipe Patury, da Revista Época –, onde ele aparece em oitavo e último
lugar. "A intenção de voto em Sarney caiu de 10,6% em julho para 6,2% na
última aferição. O senador também enfrenta uma rejeição alta: 62,5%",
afirma o colunista. De onde se conclui que alguém está mentindo.
Sérgio Santos | MZ
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