Em depoimento de delação premiada
à Justiça, um diretor da empresa Toyo Setal afirmou que pagou U$ 40
milhões ao empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano,
para intermediar a compra de sondas de perfuração para a Petrobras.
No
depoimento, Júlio Gerin de Almeida Camargo declarou que o valor foi
repassado para Soares por meio de contasoffshore indicadas por ele no Uruguai e na Suíça.
No termo de delação, Camargo afirmou que em 2005 atuou como agente
da empresa Samsung para vender para a Petrobras duas sondas de
perfuração de águas profundas na África e no Golfo do México.
Para
fechar o negócio, o delator disse que procurou Soares "pelo sabido bom
relacionamento" dele na área internacional e de abastecimento da
empresa, dirigidas à época por Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa,
respetivamente. Para tratar do negócio, o delator disse que participou
de uma reunião na sala de Cerveró, na sede da Petrobras, no Rio de
Janeiro, onde também estavam presentes o então gerente executivo da
área internacional Luiz Carlos Moreira, o então vice-presidente da
Samsung Harrys Lee e o gerente da Mitsui no Rio de Janeiro, Ishiro
Inaguage.
Para fechar a compra,
Camargo disse que se reuniu com Fernando Soares para acertar os valores
do negócio. "Fernando Soares disse que precisaria ser paga a quantia de
US$ 15 milhões de dólares para que ele 'pudesse concluir a negociação
em bom 'êxito' junto à Diretoria Internacional; (...) que isso revelava
que Fernando Soares mantinha um 'compromisso de confiança' com o diretor
internacional Nestor Cerveró. (...) que acabou concordando em pagar os
US$ 15 milhões, pois era o único jeito de fechar o negócio; que o
declarante fez um acordo com Fernando Soares", diz a delação.
O diretor
da Toyo Setal informou ainda que Soares indicou as contas nas quais os
valores deveriam ser depositados. "O declarante fez um acordo com
Fernando Soares, através de uma empresa offshore dele;
(...) que desse valor, o declarante repassou a título de propina a
quantia da US$ 12,5 ou 15 milhões a Fernando Soares; que essas
transferências bancárias da conta do declarante mantida no banco
Winterbothan, no Uruguai, em nome de uma off-shore, para inúmeras contas
indicadas por Fernando Soares", diz o termo de delação.
No mesmo
depoimento, Camargo relatou que, dois meses após o negócio ser
finalizado, foi procurado por Fernando Soares novamente para a compra de
outra sonda, dessa vez para o Golfo do México. Segundo o delator, na
segunda compra, o valor pago de propina subiu para US$ 25 milhões.
Para pagar a segunda venda, o diretor disse que fez novos pagamentos em uma contra offshorena Suíça. Parte do valor também passou pelas contas da GFD Invesimentos, uma das empresas de Alberto Youssef.
"Os
valores foram transferidos após a formalização de contratos simulados
de prestação de serviços com as empresas do declarante e emissão de
notas fiscais pelas contratadas. Somando pagamentos feitos a Fernando
Soares no exterior e no território nacional, assim como por meio de
Alberto Youssef também destinados àquele, o declarante efetivou o
pagamento total do montante exigido de US$ 40 milhões de dólares",
declarou.
A defesa de Fernando Soares confirma que ele fez
negócios com a Petrobras, mas de forma lícita. O advogado dele Mário
Filho também diz que ele não cobra propina. "Ele é um empresário,
proprietário de duas empresas antigas e faz prospecção de negócios.
Descobre onde está o problema de uma infraestrutura e vai atrás de
solução. Por exemplo, vou fazer uma estrada, preciso de tantas toneladas
de pedras. Ele faz o contato e, sobre a negociação, recebe uma
porcentagem, que é absolutamente lícito", disse.
Agência Brasil
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