No dia 9 de dezembro passado, o
Inquérito 465/PA comemorou nove anos de tramitação no Superior Tribunal
de Justiça (STJ). Uma sucessão de vai e vens está permitindo que um dos
maiores escândalos do Pará continue sem julgamento.
O caso envolve o governador Simão
Jatene e seu fiel escudeiro, Sérgio Leão, que Jatene conseguiu emplacar
no Tribunal de Contas dos Municípios. Ambos são investigados por
corrupção passiva, que teria ocorrido em 2003, quando foram descobertas
transferências irregulares de recursos da Cervejaria Paraense S.A –
Cerpasa, para a campanha política do na época candidato a governador,
além do pagamento de propinas.
O Caso Cerpasa, como ficou
conhecido, envolve repasses irregulares de R$ 16,5 milhões, em valores
da época, que não foram contabilizados pela Cervejaria Paraense S.A.
Jatene concorria ao governo do Estado e, de acordo com as investigações,
teria recebido mais de R$ 4 milhões da Cerpa para sua campanha. Este
valor não entrou na contabilidade do partido de Jatene, o PSDB.
Além desse valor, outros R$ 12,5
milhões saíram irregularmente da empresa e teriam sido usados como
pagamento de propina por conta do “favor fiscal’ que o governo de Simão
Jatene teria feito à cervejaria. A empresa contabilizava dívidas fiscais
no valor de R$ 47 milhões. Em seu primeiro ano de mandato, Jatene
publicou três decretos perdoando parte da dívida da cervejaria. A
empresa também foi beneficiada com a redução da alíquota de ICMS.
PREJUÍZOS
PREJUÍZOS
A tramoia deixou de beneficiar
claramente a população. Com a dinheirama desviada, que em valores atuais
chegam a R$ 48 milhões, o Governo do Estado poderia construir 350
escolas, que atenderiam cerca de 25 mil crianças, além de comprar mais
de 350 ambulâncias para melhorar o atendimento à saúde da população do
estado. A expectativa é de que finalmente o caso seja julgado em 2015,
enquadrando o governador e o agora conselheiro do TCM, Sérgio Leão. Essa
pelo menos é a meta do atual presidente do STJ, ministro Francisco
Falcão, conforme discurso que proferiu quando tomou posse do cargo no
ano passado.
O inquérito que apura o
envolvimento de Leão e do governador por prática de crime de corrupção
ativa, foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça pelo Ministério
Público Federal. O MP afastou a hipótese de suposto crime de corrupção
eleitoral, mas entendeu existirem indícios de “... prática dos crimes de
corrupção ativa e passiva previstos no Código Penal, uma vez que a
vantagem indevida teria sido prometida e recebida pela prática de atos
de ofício...” conforme consta na folha de número 9 do longo inquérito e
ao qual o DIÁRIO teve acesso.
Tudo começou com uma operação de
busca e apreensão de documentos e computadores feita pela Polícia
Federal, com autorização da Justiça, ao escritório da cervejaria. Na
época, de acordo com os documentos do Inquérito 465, foram obtidos
“elementos indiciantes da prática de delitos tributários, por dirigentes
da Cerpasa, em detrimento da arrecadação da contribuição devida ao
Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) e dos impostos sobre a renda e
produtos industrializados, que se incluem na competência tributária da
União”.
“Procedida a busca nas
dependências da empresa, nos termos em que autorizada pela magistrada,
foram apreendidos diversos documentos, computadores e R$ 300.000,00
destinados ao pagamento dos salários fora do contracheque. Tais condutas
estão sendo investigados no inquérito policial instaurado por
requisição do Ministério Público Federal no Estado do Pará. O material
apreendido está sendo periciado pela Polícia Federal e por auditores do
INSS e da Receita Federal”, relata o ministro Luiz Fux em despacho que
antecedeu o encaminhamento do processo para a Justiça do Pará, em 2007.
(Diário do Pará)
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