A educação deve sofrer forte
impacto da inteligência artificial nos próximos anos. Estudo do Serviço Social
da Indústria (SESI) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)
aponta as tendências de uso das tecnologias educacionais baseadas em IA nas
escolas até 2030. Uma das apostas é a expansão do uso de sistemas tutores
inteligentes para ensino personalizado. A ferramenta identifica se o aluno
adquiriu conhecimento sobre o tema ensinado e se está cansado ou feliz por ter
conseguido resolver um problema. A partir disso, é capaz de decidir, de forma
autônoma, qual a melhor estratégia pedagógica para ser utilizada em cada
momento.
O estudo “Tendências em
Inteligência Artificial na Educação” foi elaborado pela professora da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) Rosa Maria Vicari a pedido do
SESI e do SENAI. Ela analisou bases de patentes nos Estados Unidos, na União
Europeia, no Canadá e no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) no
Brasil. Além disso, consultou bases internacionais de artigos científicos e
documentos apresentados em congressos.
Como complemento desse estudo, o
SESI e o SENAI reuniram, em um painel, especialistas brasileiros em
inteligência artificial para avaliar a difusão dessas tecnologias nas escolas
do país, entre os quais pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da
Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Grande Sul (PUC-RS), além de empresas do setor. A previsão é que, até
2030, quatro das tecnologias listadas no estudo estarão difundidas em até 50%
das escolas públicas e privadas do Brasil, e uma delas, computação em nuvem,
deve estar presente em até 70% das instituições de ensino.
O SESI já utiliza em suas escolas
sistemas de tutores inteligentes para ensino personalizado. O SENAI possui
plataforma que oferece orientação profissional por meio de inteligência
artificial. A ferramenta analisa 92 características socioemocionais para traçar
o perfil do usuário e indicar as profissões da indústria mais adequadas. As
duas instituições também são pioneiras no uso de tecnologias educacionais, como
realidade aumentada e óculos de realidade mista.
PRESENÇA FORTE – O trabalho “Tendências
em Inteligência Artificial na Educação” aponta a forte presença da inteligência
artificial em sistemas utilizados na área. “O levantamento realizado constatou
que parte significativa da produção científica atual em inteligência artificial
está relacionada com o tema educação, o que indica forte presença da IA nos
sistemas educacionais e, consequentemente, um grande impacto nos processos de
ensino-aprendizagem no curto e no médio prazo”, conclui o documento elaborado
pela professora Rosa Vicari.
De acordo com o estudo, até 2020,
a tendência é o uso cada mais vez mais recorrente de recursos como
processamento de língua natural (PLN), no qual um computador é capaz de
entender e interpretar a linguagem humana. Com a evolução, a tecnologia
permitiria, por exemplo, a um professor na Alemanha dar aula em alemão a
estudantes brasileiros sem conhecimento da língua germânica. “Na educação, o
PLN vai contribuir cada vez mais para o intercâmbio entre alunos de
nacionalidades diferentes e para a transmissão em tempo real de aulas em
línguas distintas, as quais serão traduzidas para os estudantes”, cita o
material.
O levantamento também prevê que a
robótica educacional estará mais presente nos currículos das escolas de ensino
fundamental e médio em função da diminuição dos custos. As escolas SESI são
pioneiras na introdução da robótica no currículo escolar. Além disso, o SESI é
a instituição responsável no Brasil pela operação oficial do Torneio de
Robótica da FIRST LEGO League, programa internacional que fortalece a capacidade de inovação e
raciocínio lógico por meio de uma experiência criativa, na qual os competidores
são desafiados a investigar problemas e buscar soluções inovadoras para
situações da vida real, bem como programar robôs autônomos para cumprir missões
específicas.
Outra aposta é o uso do chamado
learning analytics, a interpretação de ampla gama de dados produzidos por
estudantes. Com isso, será possível avaliar o progresso acadêmico, prever o
desempenho e detectar possíveis problemas no aprendizado. “Por meio do estudo
do que ocorreu no passado com um grande número de alunos durante a realização
de um curso, é possível detectar os pontos de maior dificuldade de compreensão
do conteúdo ou mesmo a tendência para o abandono”, explica o documento.
Já entre 2020 e 2030, a previsão
é a utilização, nas escolas, da criatividade computacional, atualmente ligada à
produção artística por meio de programação com uso de modelos matemáticos e da
ótica. “Nos sistemas de ensino-aprendizagem, espera-se que as aplicações da
criatividade computacional permitam, entre outras coisas, a geração de exemplos
e exercícios criativos para enriquecer os conteúdos educacionais de forma
online”, afirma a professora. No longo prazo, os sistemas poderão até
reconhecer e avaliar atividades criativas realizadas pelo alunos.
A médio prazo, ela prevê ainda o
contínuo desenvolvimento de ferramentas que consigam avaliar emoções dos
estudantes e tomar decisões a partir da análise. O estudo aponta a utilização,
nesse período, de óculos inteligentes, que mostram informações e interpretam
comandos de voz, e de fones de ouvido capazes de traduzir conversas entre
pessoas com línguas diferentes. A previsão é também a evolução dos chamados
jogos sérios, técnica que utiliza características típicas dos games como
pontuações, premiações e níveis de dificuldade para manter o interesse do
aluno.
COMPUTAÇÃO EM NUVEM – No Brasil,
a projeção dos especialistas reunidos pelo SESI e SENAI é que a computação em
nuvem, para acesso a um conjunto compartilhado de dados e conteúdos, deve ter a
difusão mais rápida. Até 2020, de 11% a 30% das instituições de ensino já devem
utilizá-la. Até 2027, o uso estará difundido em cerca de 31% a 50% das escolas
e de 51% a 70% das instituições a utilizarão por volta de 2030.
As outras tecnologias que deverão
ser utilizadas por 31% a 50% das instituições de educação brasileiras até 2030
são: os sistemas tutores inteligentes para ensino personalizado com
processamento de língua natural; as plataformas para aprendizagem colaborativa;
os recursos de learning analytics, e os ecossistemas de educação –que permitem
a integração de componentes típicos de ensino personalizado com a comunicação
em fóruns e chats, por exemplo, entre
alunos que estejam utilizando o sistema.
Os especialistas em IA também
apontam ações para estimular o uso dessas tecnologias pelas instituições
educacionais no Brasil. Entre as sugestões estão: oferecer linhas de
financiamento; capacitar professores e outros envolvidos; melhorar a
infraestrutura das escolas; implementar projetos-piloto em todos os níveis de
ensino; desenvolver políticas de apoio à inovação tecnológica para
desenvolvimento de produtos e serviços adequados ao mercado brasileiro;
fomentar linhas de pesquisa sobre psicologia humana voltada ao processo de
educação, entre outras medidas.
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