Mercado de arquitetura e construção civil passam por reformulações históricas, em virtude da pandemia.
Um balanço da Agência France Presse (AFP) identificou
que um terço da população mundial - cerca de 2,8 bilhões de pessoas - esteve
sob restrições sociais para barrar o contágio da SARS-COV-2. Entre
diversas consequências, o resultado desse isolamento incidiu diretamente no
setor de imóveis. De acordo com o “Think With Google”, o confinamento
injetou ânimo no mercado imobiliário global, devido as mudanças na rotina e
comportamento dos consumidores.
Já no Brasil, a pandemia do novo coronavírus impactou
negativamente o mercado de imóveis. Ocupando a 3ª posição entre nações com mais
casos da doença, segundo o Center for Systems Science and Engineering
(CSSE) — Johns Hopkins University, a insegurança a respeito da crise
no país levou 86% dos interessados a adiarem as decisões de compra ou aluguel
de um imóvel, conforme a pesquisa “DataZAP”, pertencente ao Grupo Zap.
O estudo “DataZAP” mostra ainda que 54% dos
profissionais do setor imobiliário notaram um aumento no cancelamento das
negociações. Mesmo com a taxa Selic no menor patamar histórico
(2% ao ano), 64% dos interessados na compra de imóveis insistiram em esperar
até novembro para adquirir uma casa, ainda conforme registrado pela pesquisa.
O faturamento mensal dos empresários que atuam no segmento de
“construção civil” também foi afetado. Segundo o resumo setorial mais recente
do Sebrae— Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas,
89% dos empresários declararam uma queda nas receitas do mês, levando a
suspensão do contrato de mais de 24% dos trabalhadores do setor (engenheiros civis,
arquitetos, mestre de obras, pedreiros, ajudantes, pintores, eletricistas,
dentre outros).
A crise na categoria, no entanto, não pegou de surpresa o baiano Márcio
Barreto, formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA). A frente do escritório “Arquitetura do Barreto”, o profissional
teve que se readaptar junto a 20% dos pequenos negócios, que declararam usar
ferramentas digitais para manter o funcionamento durante a pandemia, ainda
segundo dados do Sebrae.
“Não foi fácil, mas conseguimos nos adaptar para as novas
necessidades do mercado, oferecendo serviços no ramo de arquitetura através do
digital, em virtude da crise. A pandemia, em seu legado, transformou o estilo
de viver de consumidores e profissionais, com hábitos que provavelmente
continuarão, no mínimo, até 2021”, relata o arquiteto.
Apesar das quedas registradas no mercado imobiliário brasileiro, a
pandemia gerou resultados positivos para o “mercado de móveis” —com alta de
30%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). Somente residências e empresas foram as maiores responsáveis pelas
mudanças dos ambientes— 47%, conforme atestado pela startup Archademy.
A venda online de itens decorativos não ficou atrás, com
aumento de 23%.
O “Lar Doce Lar” dos brasileiros ainda passou por mais mudanças em 2020.
Segundo um estudo do mês de outubro pelo Sebrae, intitulado “Boletim
de Tendência Construção Civil”, houve um aumento significativo nas
pesquisas sobre reformas de ambientes, móveis e decoração por parte dos
brasileiros. E não para por aí. Inserido há 7 anos no mercado de
Arquitetura, Márcio Barreto afirma que nunca presenciou uma
mudança tão expressiva no conceito interno dos lares, consequência da pandemia
de Covid-19.
“A escolha dos móveis, por exemplo, tem mudando conforme as novas
necessidades. Antigamente era muito comum ter peças em madeira pesada, com um
design mais volumoso. É possível perceber que atualmente há uma disposição de
modelos no mercado muito focada em móveis minimalistas. Até mesmo a escolha de
revestimentos e tipos de piso estão associados a um cuidado especial a longo
prazo. Essas mudanças, não só em ambientes internos, mas como todo o mercado,
fazem parte do legado da pandemia em consumidores, profissionais, casas,
escritórios, apartamentos, entre outros”, conclui.