O jornalista Chico de Gois, do jornal O Globo,
esteve em Macapá, na semana retrasada, para assuntar a quantas andava a
possível candidatura à reeleição do senador José Sarney. De posse das
informações, traçou um quadro realista dos percalços impostos, tanto
pelos seus adversários políticos como por aqueles que, até pouco tempo,
ouviam-lhes conselhos. Na reportagem, De Gois também destacou o problema
da precária condição de saúde do oligarca como um dos fatores que
dificultariam a nova tentativa do maranhense chegar à Câmara Alta da
República.
Em relação ao PT, o repórter afirma que Sarney tenta impedir a
candidatura de Dora Nascimento ao Senado. Ele não teria esquecido os
perrengues que passou para vencer a socialista Cristina Almeida na sua
última disputa eleitoral.
O senador maranhense, acostumado a campanhas
de céu de brigadeiro, teve que dançar o Marabaixo, uma dança local, para
chegar à frente no pleito.
Segundo fontes da Executiva Nacional petista, só o que estaria
pendente sobre com quem vai o PT nestas eleições no Amapá seria a
definição da candidatura ao Senado. Isso porque, para a disputa do
governo estadual, a coligação já estaria definida com o PSB de Camilo
Capiberibe. Se o PT decidir por não ter candidatura a senador, Dora será
a vice na chapa majoritária do socialista. A palavra final será dada no
dia 21 de junho no Encontro Nacional da legenda.
Leia a reportagem de Chico de Gois publicada em 15/06/2014:
No caminho de José Sarney, a idade e o risco de perder
Senador ainda não decidiu se disputará mais um mandato pelo AP, para onde enviou colaborador para sondar clima
MACAPÁ - Com 84 anos, a saúde um
pouco abalada e seis décadas de trajetória política, o senador José
Sarney (PMDB-AP) encontra-se num dilema de vida: ser ou não ser
candidato a mais um mandato de senador pelo Amapá, estado que adotou
para angariar votos.
Por enquanto, o mistério se mantém. Sarney não diz
que sim nem que não. Há cerca de 15 dias, segundo políticos locais, ele
enviou ao Amapá um de seus colaboradores, que se dedica às
reivindicações do estado — do Maranhão, ele mesmo cuida. O enviado
conversou com aliados do velho cacique, ouviu ponderações e as repassou
ao chefe.
Uma das preocupações que estão
atormentando a cabeça do longevo líder político é que, se concorrer,
corre risco de perder. E sair da vida pública vitoriosa — na qual foi
tudo o que quis, inclusive presidente da República — com uma derrota não
seria um bom final.
Além disso, a filha, a governadora Roseana Sarney
(PMDB), também desistiu de concorrer ao Senado pelo Maranhão e, a partir
do ano que vem, pretende passar uma temporada nos Estados Unidos — o
destino seria Miami, como vêm dizendo às rodas políticas maranhenses.
Uma derrota de Sarney, somada ao afastamento de Roseana, deixaria a
família longe do poder pela primeira vez na vida. O único representante
do clã que pode se eleger com uma certa facilidade é o deputado Zequinha
Sarney (PV-MA).
No Amapá, o candidato que mais
preocupa Sarney é cria sua. Trata-se do deputado federal Davi Alcolumbre
(DEM). Davi era sobrinho de Salomão Alcolumbre, que foi suplente de
Sarney e morreu em abril de 2011, aos 65 anos, de um ataque cardíaco.
Davi entende que chegou a hora de tocar a vida sozinho. Embora jovem,
com 37 anos a se completarem dia 19 deste mês, ele não é neófito.
Deputado federal por três mandatos seguidos, na eleição passada para
prefeito ficou em quarto lugar no primeiro turno. Acabou apoiando Clécio
Luis (PSOL), ajudando-o a vencer o pleito contra Roberto Góes (PDT).
Troco à falta de apoio do PMDB
O deputado afirmou que tomou a
decisão de se lançar ao Senado há oito meses. Ele se ressentiu do fato
de que o PMDB não apoiou sua candidatura a prefeito no ano passado,
embora ele próprio tenha se unido aos peemedebistas em outras eleições.
Embora declare que respeita a história de Sarney, Davi dá a entender que
o senador maranhense é passado.
— Na vida tudo passa. O país mudou
desde junho do ano passado, quando aconteceram as manifestações. E a
classe política precisa dar uma resposta à população — disse ele, e
prometeu: — Se tiver de enfrentar Sarney, vou enfrentar.
Senador quer que PT impeça candidatura de vice-governadora
Pesquisas informais em posse de
candidatos a senador e a governador apontam que há um empate técnico
entre Davi Alcolumbre (DEM) e José Sarney (PMDB). A diferença varia
pouco, segundo essas sondagens, chegando a no máximo dois pontos
percentuais.
Na eleição de 2006, o velho cacique
por pouco não perdeu para uma estreante, a hoje deputada estadual
Cristina Almeida (PSB). Sentindo-se ameaçado, Sarney teve de
intensificar o corpo a corpo no estado, contando com a ajuda do
ex-presidente Lula. No final, obteve 53,87% dos votos válidos, contra
43,59% de Cristina e 1,27% de Celisa Penna (PSOL).
Agora, Sarney dá alguns passos para
se precaver: quer que o PT impeça que a vice-governadora, Dalva
Figueiredo (PT), lance sua candidatura ao Senado. O PT também emite
sinais contraditórios sobre o assunto, à espera da decisão de Sarney. Se
ele decidir ser candidato, a Executiva Nacional petista deve impedir
que Dalva se lance.
Na disputa para o governo do Amapá,
Sarney vai subir no palanque do ex-governador Waldez Goes (PDT), preso
em setembro de 2010 pela Polícia Federal na Operação Mãos Limpas. Waldez
foi detido com outras 17 pessoas, incluindo seu vice na época, Pedro
Paulo Dias (PP), e sua mulher, a deputada estadual Marília Góes (PDT). A
PF os acusa de integrar um esquema de desvio de verbas da Educação, com
prejuízo aos cofres públicos estimado em R$ 300 milhões.
— O senador Sarney é nosso candidato
natural. Tem força de trabalho e reconhecimento do povo pelo que fez
pelo Amapá. Ele não vive aqui e nem precisa. O importante é que o
gabinete dele está aberto às pautas do Amapá — disse Waldez.
O ex-governador afirmou que seu grupo
não trabalha com plano B, caso Sarney não queira entrar na disputa.
Mesmo assim, há outros interessados. Um deles é o ex-senador Gilvam
Borges (PMDB), que tem dito a interlocutores que pretende assumir a
candidatura caso Sarney desista. Se o senador lançar seu nome, Gilvan
tenta vaga na Câmara.
Influência à distância
Mesmo ausente fisicamente do estado,
Sarney exerce influência sobre toda a política amapaense. Um exemplo é o
deputado estadual Bruno Mineiro (PTdoB), que lançou sua candidatura ao
governo do estado semana passada. Antes do anúncio, Mineiro foi ao
gabinete do senador em Brasília. Sarney ouviu, disse que seria bom tê-lo
como candidato, mas não anunciou apoio. Nem disse se sairia candidato. A
decisão só deve ser conhecida no fim do mês. Por sua assessoria, o
senador afirmou que ainda não decidiu se será ou não candidato.
Segundo pesquisas informais, não
registradas na Justiça Eleitoral, Waldez Góes aparece na frente; os
próprios adversários admitem a vantagem dele. Precavido, Waldez sabe que
a Operação Mãos Limpas voltará a ser debatida:
— Aquilo foi um estelionato político.
Nunca fui ouvido sobre esse processo. Já faz quatro anos. Minha prisão e
a da minha mulher foram arbitrárias — declarou ao GLOBO.
A prisão e os desdobramentos do
escândalo tiraram Waldez de uma quase certa vitória para o Senado há
quatro anos e derrotaram seu candidato ao governo, Pedro Paulo Dias
(PP), que havia sido seu vice. Ele acabou em terceiro, e o eleito para
governar Amapá foi Camilo Capiberibe (PSB), cuja família é adversária
histórica de Waldez e de José Sarney. Capiberibe admite que a campanha
será dura, porque enfrentará vários adversários. Ele reuniu em torno de
si poucas legendas: além do seu próprio partido, o PSB, terá PT, PCdoB e
PSOL.
— É uma aliança muito boa — afirmou.
O deputado estadual Bruno Mineiro,
que há cerca de 15 dias anunciou que também vai concorrer ao governo do
estado, foi secretário dos Transportes de Capiberibe; saiu em abril para
poder se tornar candidato.
— Temos um vácuo de lideranças no estado, por isso resolvi me apresentar para a disputa — afirmou o deputado.
MZ Portal
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