Repercute em todo o país a escolha
do deputado federal Vinícius Gurgel (PR-AP) na lista tríplice para
definição do relator do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB) no Conselho de Ética, por ter sido um dos seus mais
aguerridos cabos eleitorais nas eleições da Casa, tendo sido, inclusive,
o coordenador da campanha do peemedebista no Amapá.
Por sua dedicação à
campanha, Gurgel recebeu até um apelido curioso dos colegas: ‘O Menudo
de Cunha’, em alusão a suposta semelhança com os integrantes de uma
banda musical de Porto Rico que fez muito sucesso entre as décadas de
1970 e 1980.
Apesar da afirmação de Vinícius Gurgel
de que, se escolhido relator, vai agir com isenção, ninguém acredita
nisso, principalmente após a divulgação, pela mídia nacional, de uma
imagem da comemoração do parlamentar amapaense da vitória de Eduardo
Cunha na disputa pela presidência da Câmara, aqui republicada.
Nesta
terça, Gurgel disse que, se escolhido pelo presidente do Conselho de
Ética para ser o relator, deverá dar um parecer preliminar pela
continuidade do processo. “Se eu for escolhido relator, vou pedir
auxílio da Procuradoria-Geral e demais órgãos envolvidos nas
investigações, para analisar as fundamentações do requerimento”,
declarou.
Processo de cassação
O processo que pode levar à cassação do
mandato do presidente da Câmara foi instaurado na terça-feira, 03. Além
de Vinícius Gurgel, foram sorteados outros dois parlamentares
integrantes do colegiado.
Um deles será escolhido relator pelo
presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA) para ser o relator
do processo. Segundo Aleluia, após conversar separadamente com cada um
dos parlamentares é que ele tomará uma decisão, o que deve acontecer até
o final desta semana.
Apesar das fortes críticas contra os
três nomes escolhidos, principalmente a grande rejeição ao nome de
Vinícius Gurgel, Araújo garante que a principal prerrogativa para a
escolha será a isenção e o “desejo de fazer justiça”.
Ele tem repetido
que o fato de os três parlamentares pertencerem a partidos da base
governista não causará nenhum problema na tramitação do processo de
cassação: “Eu tenho certeza que todos os três têm condições de ser
relator. Não tenho a menor dúvida disso. Mas eu vou escolher dentre eles
aquele que eu entender que está mais preparado ao meu ver para
desempenhar essa função”.
Vários deputados declinaram de concorrer
à relatoria, dentre os quais Júlio Delgado (PSB-MG), sob a alegação de
ter disputado a Presidência da Câmara com Cunha; Mauro Lopes (PMDB-MG) e
Washington Reis (PMDB-RJ) também se declararam suspeitos por serem do
mesmo partido de Cunha.
O pedido de cassação foi protocolado no
dia 13 de outubro pelo PSOL e a Rede Sustentabilidade, sob o argumento
de que ele mentiu durante depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) da Petrobras ao afirmar que não possui contas bancárias no
exterior, no que foi desmentido pela Procuradoria Geral da República
(PGR), que confirmou a existência de ativos na Suíça em nome do deputado
e de familiares dele, no valor total de quase US$ 5 milhões – cerca de
R$ 20 milhões.
Renúncia
É grande o movimento entre os deputados
de situação e de oposição para que Vinícius Gurgel renuncie à lista
tríplice, por sua ligação pública e notória com Cunha. Eles argumentam
que, em respeito à ética, o parlamentar deveria, também, a exemplo de
outros colegas, renunciar à relatoria antes que o processo de escolha
seja concluído, declarando-se suspeito por suas estreitas relações com
Eduardo Cunha.
(Ramon Palhares)
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