O resgate da medicina tradicional, cultura secular utilizada por
diversas tribos de todo o mundo, foi o destaque deste 19 de abril, Dia
do Índio - e segundo dia de atividades do Fórum Indígena do Amapá. O
evento marca as comemorações da data e é um espaço para discussão de
políticas públicas para etnias do Amapá e Norte do Pará.
As atividades deste domingo iniciaram com uma palestra sobre a
utilização de plantas medicinais no auxílio do tratamento de doenças. A
aula foi ministrada pelo médico cubano Javier Salazar, que faz parte do
programa Mais Médicos. Ele destacou a importância do resgate dessa
cultura indígena que está sendo substituída pelos remédios
convencionais.
Para incentivar a utilização dos remédios caseiros, foi criado o
projeto de cultivo de hortas de plantas medicinais, realizado pela
Secretaria de Saúde Indígena, em parceria com o Instituto de Pesquisas
Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa). "Temos quatro
hortas plantadas em diferentes aldeias. A ideia é resgatar essa cultura
indígena e incentivar o uso dos remédios tradicionais junto com os
convencionais no tratamento de doenças", explicou Salazar.
São os próprios índios que fazem as hortas com as plantas que tem na
tribo e mudas que são doadas pelo Iepa. O projeto ganhou destaque
internacional durante um congresso em Cuba, realizado em fevereiro deste
ano.
A próxima horta será plantada na aldeia do Tumucumaque. "Com a
influência da cidade na nossa cultura, os índios deixaram de utilizar os
remédios tradicionais para consumir os de farmácia, isso faz com que o
nosso conhecimento que deveria ser passado de geração para geração se
perca, e não é isso que queremos", disse a cacique Cinaw Waiãpi.
Durante o evento os indígenas puderam conhecer um pouco mais sobre as
secretarias de Estado que possuem programas para as aldeias. A
Secretaria Extraordinária de Políticas para as Mulheres (SEPM)
apresentou as políticas públicas para as mulheres indígenas.
A Secretaria de Estado do Desporto e Lazer (Sedel) destacou a
importância do incentivo ao esporte indígena e apresentou programa
sociais que serão implantados nas aldeias, como o projeto Segundo Tempo,
onde os monitores serão da própria aldeia e escolhidos pelos índios.
Outra novidade é o fornecimento de bolsas do curso de graduação em
Educação Física.
A cada semestre, um índio será contemplado. O objetivo é
oportunizar uma graduação para pessoas que tenham interesse em atuar na
sua própria localidade. Além disso, é preciso reorganizar os jogos
indígenas que foram realizados sem planejamento, o que resultou em uma
competição que não foi finalizada.
A secretária de Políticas Assistenciais da Secretaria de Estado da
Inclusão e Mobilização Social (SIMS), Patrícia Silva, esclareceu as
dúvidas sobre assistência e políticas para os indígenas. A principal
dúvida era em relação às parteiras. O programa estava parado por falta
de kits utilizados no parto.
"As parteiras não tinham kits básico para
realização do atendimento e identificamos parteiras que recebiam, mas
nunca realizaram um parto. Estamos reorganizando o programa e vamos
conversar com as parteiras para resolver esses problemas", garantiu
Patrícia Silva.
Ainda de acordo com a secretária, os povos indígenas são beneficiados
com outros programas do governo como Amapá Jovem, Luz Para Viver Melhor
e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que adquire produtos
produzidos pelos índios.
O Fórum também foi um espaço de diálogo com os povos indígenas que
colocaram os problemas enfrentados nos últimos anos como a saúde
precária, falta de incentivo ao esporte e educação. "Temos direito à
saúde e educação como qualquer outro povo. Também queremos mais
incentivo ao esporte e participação dos nossos representantes nas
discussões" pediu o líder, Caubi Waiãpi.
A secretária extraordinária dos Povos Indígenas, Eclemilda Maciel,
disse que todas as solicitações foram anotadas e serão encaminhadas ao
governador Waldez Góes. "Precisamos avançar em diversos pontos,
principalmente na saúde, esse vai ser nosso foco. Vamos encaminhar um
documento com todas as reivindicações e analisar o que atendemos e o que
precisa ser atendido", afirmou a secretária.
Os índios também agradeceram a realização do fórum e os incentivos
que estão sendo criados. "Reconhecemos o benefício desses programas e
agradecemos a oportunidade de sermos ouvidos e atendidos como qualquer
outro povo do Amapá", disse Caubi.
Após o debate, o fórum continuou pela tarde com uma programação
esportiva, realizada na Praça Raimundo Adamor Picanço, no bairro Beirol.
O fórum terá continuidade na Aldeia Kamarumã, no município de Oiapoque,
nos dias 25 e 26 de abril.
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