Por incrível que possa parecer, Moisés Souza e Edinho
Duarte, deputados estaduais afastados da direção da Assembleia
Legislativa do Estado, voltam a ocupar os mesmos cargos de onde foram
defenestrados por serem acusados de improbidade administrativa pelo
Ministério Público do Amapá em processo que tramita no Tribunal de
Justiça do Estado.
Até quando o Amapá será palco de cenas improváveis, conduzidas por
uma elite reacionária que faz o que quer, sem o menor pudor e
preocupação com a opinião pública?
Quando a lei deixará de ser interpretada ao gosto do freguês?
As acusações que pesam sobre os dois deputados são bastante graves
para que eles voltassem a ocupar, nesse momento, cargos públicos de
tamanha relevância para o funcionamento do Estado.
O correto, diria o bom senso, seria mantê-los afastados até o
julgamento dos seus processos e, dependendo do resultado, reconduzi-los
ou penalizados conforme a lei cabível para o caso.
É certo, eles ainda são apenas processados e possuem pleno direito à
defesa, mas as provas levantadas contra os dois, segundo o MP, são
muitas e irrefutáveis. Então, será plausível colocar um orçamento de R$
156 milhões para eles administrarem?
Entenda o caso com a matéria do Amapá 247:
Investigados vão "administrar" R$ 156 milhões
Paulo Silva do Amapá 247 - Trata-se dos deputados
Moisés Souza (PSC) e Edinho Duarte (PP), que no sábado, dia 25, em
"solenidade" realizada na sala da Presidência da Assembleia Legislativa
do Amapá (Alap), reassumiram os cargos de presidente e
primeiro-secretário, respectivamente, da mesa diretora da Casa, dos
quais estavam afastados por sentença judicial desde junho de 2012.
Os dois estão sendo processados pelo Ministério Público do Amapá (MP)
em doze ações penais e onze por improbidade administrativa, por
reiteradas e contumazes práticas de delitos de corrupção ativa, fraude
em licitações, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, envolvendo
aluguel de veículos pela Assembleia Legislativa do Estado do Amapá. Os
prejuízos ao bolso do contribuinte - acusa o MP - chegam a R$ 29
milhões.
Moisés Souza e Edinho Duarte, ambos investigados também na "Operação
Mãos Limpas" deflagrada em setembro de 2010 pela Polícia Federal por
decisão do ministro Otávio Noronha, do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), foram afastados da presidência e da primeira secretaria da
Assembleia depois que o Ministério Público do Amapá desencadeou a
Operação Eclésia, desmontando um esquema de corrupção ocorrido entre os
anos de 2011 e 2012, envolvendo deputados, assessores, servidores,
ocupantes de cargos comissionados na Assembleia, "laranjas" e
empresários.
Pelo menos uma das ações penais estava em vias de ser julgada esta
semana pelo Tribunal de Justiça, mas a audiência foi adiada pela
terceira vez, desta feita pela ausência de um perito federal que mora e
trabalha em Brasília.
O relator das ações penais que tramitam no Tribunal de Justiça do
Amapá é o desembargador Constantino Brahuna, considerado suspeito pelo
Ministério Público em razão de ter sido apanhado em gravação na qual
revela ser amigo do deputado Moisés Souza, pronunciando a seguinte
frase: "o presidente (era Moisés Souza) é meu 'amigo pessoal'. Eu
frequento a casa dele e ele a minha, então o presidente da Assembleia é
meu amigo, então eu posso fazer isso". A suspeição de Brahuna foi
arguida pelo MP, mas o Tjap, por maioria, negou. O recurso contra a
negativa tramita no Superior Tribunal de Justiça, tendo como relatora a
ministra Marilza Maynard.
Em dezembro do ano passado, julgando habeas corpus, o ministro
Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), "decidiu"
possibilitar o retorno de Moisés Souza e Edinho Duarte aos cargos que
exerciam na mesa diretora da Assembleia, "se assim entendessem os
deputados". Um parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
previa que a "decisão" do ministro fosse levada para votação em
plenário. Isso não ocorreu.
Logo após o recesso do Judiciário, decidindo sobre um pedido de
Moisés Souza, o desembargador Brahuna disse não exister nada que
impedisse o retorno dos dois deputados aos cargos. Logo em seguida
começou a divisão dos cargos estragégicos na Casa. Orlando Pinheiro,
ligado ao deputado Edinho Duarte, foi nomeado secretário de Finanças. No
sábado, ao reassumir a presidência, Moisés Souza disse que a gestão
orçamentária e financeira ficará com o deputado Michel JK (PSDB),
corregedor da Assembleia. Ele prometeu cuidar apenas da parte
legislativa e do comando do Plenário, que só retomará as sessões
deliberativas dia 3 de fevereiro.
OUTRAS CONSEQUÊNCIAS - O envolvimento do deputado
Moisés Souza no esquema de corrupção denunciado pelo Ministério Público
do Estado acabou atingindo também um de seus irmãos; o delegado da
Polícia Federal Marcos Reategui, preso em novembro do ano passado pela
própria PF.
De acordo com a peça do habeas corpus, Marcos Reátegui foi preso em
razão de ter acessado indevidamente arquivos do Sistema Cartorário da
Polícia Federal - SISCART, cujo conteúdo não faz parte de suas
atribuições na Superintendência Regional do Departamento da Polícia
Federal no Amapá, "buscando informações referentes a diversas pessoas
físicas e jurídicas, notadamente políticos do Estado do Amapá e a
empresa LMS (iniciais de Luciano Marba Silva)". A Polícia Federal afirma
que os documentos acessados pelo delegado Reátegui não seriam objeto de
interesse de investigações por parte dele.
Um laudo pericial solicitado identificou que Marcos Reátegui teve
acesso a diversas peças elaboradas por outras autoridades policiais,
(...), além de representações por quebras de sigilo, o que, por sua vez,
dispensa explicar a natureza do procedimento (...), e à Operação Mãos
Limpas, que envolveu adversários políticos do irmão dele, o deputado
Moisés Souza, alvo de investigações na Operação Eclésia, sendo que
informações referentes a aliados e inimigos políticos possuem grande
valor, notadamente ao se aproximar ano eleitoral, motivo pelo qual os
acessos indevidos ao SISCART efetuados por Marcos (tratado como DPF RE
AT E G U I) muito provavelmente muniram seu irmão de informações
privilegiadas.
Embora lotado na Delegacia de Crimes Previdenciários (DELEPREV),
Marcos Reátegui realizou diversos acessos indevidos aos dados do Sistema
Cartorário da Polícia Federal - (SISCART), que não guardavam
pertinência com a sua área de atuação, a exemplo de representações por
quebra de sigilo e de informações a respeito de pessoas físicas e
políticas do cenário político amapaense, inclusive, referentes a seu
irmão, deputado estadual Moisés Souza, que foi alvo de investigações
promovidas pelo Ministério Público do Amapá. Marcos foi solto, mas está
afastado de suas funções.
MINISTÉRIO PÚBLICO RECORRE – Na primeira quinzena
deste mês, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recorreu ao
Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de reconsideração/agravo
regimental da decisão liminar que trata do afastamento dos deputados
Moisés Reátegui de Souza e Jorge Evaldo Edinho Duarte Pinheiro da mesa
diretora da Assembleia Legislativa do Amapá (ALAP).
O recurso do Ministério Público Federal (MPF), ainda não julgado, tem
por objetivo garantir o cumprimento da decisão de mérito do pleno do
Tribunal de Justiça do Amapá, nos autos da ação penal
0000933-95.2012.8.03.0000, que concluiu pela manutenção do afastamento
dos acusados, até o final da ação penal conhecida como "Caso COOTRAM",
decisão esta ratificada em outras ações penais movidas pelo Ministério
Público do Amapá Estadua.
A cooperativa Cootram recebeu quase R$ 5,5 milhões da Assembleia, sem alugar umn veículo sequer.
A cooperativa Cootram recebeu quase R$ 5,5 milhões da Assembleia, sem alugar umn veículo sequer.
O MPF relata que "os interessados estão sendo processados em ações
penais (12) e por improbidade administrativa (11), por reiteradas e
contumazes práticas de delitos de corrupção ativa, fraude em licitações,
formação de quadrilha, envolvendo aluguel de veículos pela Assembleia
Legislativa do Estado do Amapá. Prejuízos na ordem de mais de R$ 22
milhões."
Ainda no agravo, argumenta o MPF que, pelo princípio da
proporcionalidade, a apuração dos fatos e a punição dos acusados em prol
da coletividade superam qualquer argumento judicial de prejuízo aos
parlamentares, ante a manutenção de seus afastamentos da condução da
mesa diretora da Assembleia.
Argumenta, ainda, que a medida é imprescindível para que não haja
interferência direta na continuidade das investigações e novas ações
penais que ainda estão sendo ofertadas pelo MP, além da gravidade dos
crimes cometidos pelos acusados e vultoso prejuízo aos cofres públicos.
De acordo com o último levantamento das ações impetradas pelo Ministério
Público que envolve os acusados, o prejuízo financeiro ao contribuinte
já se aproxima de R$ 29 milhões de reais.
Sérgio Santos | MZ
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