Espíritas,
católicos, evangélicos, enfim, a maioria das doutrinas condena o
suicídio.
O livro de Apocalipse, capítulo 21 versículo 8, diz que o
suicida queimará num lago de fogo. Os espíritas afirmam que a pessoa que
se mata é a que mais sofre depois da morte.
O fato é que o suicídio é a
quinta causa de morte violenta no Amapá. Só este ano, em apenas quatro
meses, 20 pessoas já tiraram a própria vida no estado. Mas, ao contrário
do que muita gente imagina, esse problema tão crescente não é exclusivo
do Amapá.
O
assunto é considerado caso de saúde pelo Ministério da Saúde, e as
estatísticas demonstram que enquanto você lê essa matéria uma pessoa já
tirou a vida, e outras três tentaram se matar sem sucesso no Brasil, de
acordo com dados da Organização Mundial de Saúde.
Segundo a
OMS, 25 pessoas cometem suicídio por dia no Brasil.
Nos últimos anos
houve aumento de 30% nesses casos entre os brasileiros de 15 a 29 anos. A
organização preconiza que a tendência é o crescimento de mortes desse
tipo entre os jovens.
Em todo o
mundo, são registrados um milhão de suicídios por ano, e até 2020 serão
1,5 milhão de vítimas. No Amapá não existem estatísticas oficiais dessa
natureza, mas no blog do jornalista Bolero Neto, conhecido repórter
policial que faz levantamentos diários das ocorrências policiais de todo
o Estado, já existem registros de 20 casos este ano, três a mais do que
no mesmo período do ano passado.
De
acordo com o blog, do total de casos deste ano, 9 ocorreram em Macapá, 6
em Santana, 1 em Laranjal do Jarí, 1 em Oiapoque, 1 no Distrito do
Coração (zona rural de Macapá), 1 Lourenço (Calçoene) e 1 em
Tartarugalzinho. Desses casos, 17 foram enforcamentos, 1 por arma
branca, 1 por envenenamento e 1 com arma de fogo. Ao todo foram 17
homens e três mulheres.
As
estatísticas não trazem os casos de tentativa de homicídio. Dois casos
bem recentes foram parar nas redes sociais e por isso ficaram muito
comentados. Esta semana uma menina de 17 anos jogou-se do segundo andar
do Colégio Amapaense. Alguém filmou com o celular o momento em que ela
foi agarrada por colegas que amorteceram a queda. Ela teve só uma
fratura no tornozelo.
Um outro caso, também por desilusão amorosa,
envolveu um ex-oficial do Exército que teria tomado veneno para rato
misturado ao iogurte na porta da sala de aula da ex-namorada no Colégio
Gabriel de Almeida Café (antigo CCA).
Depois que ele fugiu do Hospital de Emergência, houve comentários de que se tratou de uma simulação.
“O suicídio explícito,
é aquele em que a pessoa tira deliberadamente a própria vida com uma
corda no pescoço ou uma bala na cabeça e tem o suicídio velado, que é
aquele em que a pessoa tem consciência do risco, tipo alguém que sai
bêbado dirigindo e isso se repete com frequência.
Qual a possibilidade
dessa pessoa chegar viva em casa? É bem baixa”, explica o psicólogo
Nazir Rachid, que atualmente prepara tese de doutorado sobre o assunto.
De
acordo com o psicólogo, para muitos estudiosos (entre eles Emille
Durkheim), o suicídio é uma forma de comunicação, mesmo que não haja
participação direta de outra pessoa na morte. “Durkheim diz que o
suicídio antes de qualquer coisa é uma forma de se comunicar. Aquele
filho que se mata em seu quarto quer dizer alguma coisa que não disse em
vida. Ele escolheu racionalmente ou não aquele local para dizer você é
também culpado por isso!”, explicou Rachid.
Esse
sentimento de culpa com o suicídio de alguém muitas vezes afeta as
famílias que se perguntam o motivo de tanto desespero. Foi o caso da da
aposentada Tereza de Jesus, de 59 anos, que perdeu um filho aos 29 anos
de idade. “Quando cheguei em casa e vi ele enforcado no meio da sala eu
passei mal.
Não conseguia entender qual era o motivo do meu filho ter se
matado. Por muitos anos me senti culpada pela morte dele, mesmo ele
tendo tirado a própria vida. Até hoje me pergunto o que faltou eu ter
lhe dado. Será que não fui boa mãe? Será que não o eduquei direito? Eu sinto como se também estivesse culpa nisso”, indaga.
Para a
psicologia, não existem pessoas mais ou menos vulneráveis quando o
assunto é suicídio, mas há grupos em que isso ocorre com maior
frequência, dentre eles os jovens, principalmente os adolescentes que
buscam sua construção de autoimagem e os idosos que optam pelo suicídio
pela falta de perspectiva de vida ou solidão.
Pesquisas
apontam que o meio tem pouca influência no suicídio, por exemplo, o
país que tem o maior índice de suicídio do mundo é a Suíça, justamente
onde existem os melhores indicadores do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH), uma ótima qualidade de vida “aparentemente”. “O que está
faltando? O fato é que a tecnologia ocupa espaço físico, mas não
preenche e não colaboram para o psicológico. O problema está na
estruturação de cada família”, resumiu o psicólogo.
Dentro desse contexto, existem personalidades que podem ter mais chance
de cometer suicídio. Pessoas solitárias, com pouca autoestima, pessoas
que sofrem de depressão, e ainda pessoas que se sentem culpadas e vivem
dizendo que não aguentam mais viver. Neste caso ocorre o autocídio, que é
quando alguém decide por fim ao problema tirando a vida.
CVV
Há 47 anos, uma entidade se dedica ao combate deste mal. O Centro de Valorização da Vida. A ong existe no estado
há 14 anos e trabalha com voluntários no atendimento telefônico e
presencial.
“Vivemos tão cheios de tarefas e atividades que não temos
tempo para construir nosso emocional, o que fazermos aqui não é dar
conselhos, nós apenas ouvimos as pessoas.
Na maioria dos casos essa
pessoa retorna a ligação. Nós entendemos que às vezes as pessoas
precisam desabafar para organizar suas ideias e ter uma outra visão daquele assunto que para ela era impossível”, justificou o voluntário, Wander Silva.
By Redação
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