O suplente de deputado federal Ernesto Vieira, preso no
sábado (18), acusado pela Polícia Federal de participar de um esquema
que desviou R$ 73 milhões da Mega-Sena, loteria administrado pela CEF
(Caixa Econômica Federal), tem como padrinho político o presidente do
PMDB no Maranhão, senador João Alberto, e o deputado Francisco Escórcio
(PMDB-MA), ambos ligados ao grupo do senador José Sarney (PMDB-AP). O
desvio é o maior da história da CEF.
Vieira foi preso no município de Estreito (MA) pela Polícia Federal.
Antes de se candidatar a deputado federal, ele concorreu a uma vaga de
estadual também sem sucesso. O empresário Pedro Iran Pereira Espírito
Santo, sócio de Vieira num empreendimento, afirmou que João Alberto deu
autorização para Vieira se candidatar a deputado federal em 2010. "Ele
era encostado no João Alberto e no Chiquinho Escórcio. Sempre gostou de
se encostar em alguém com melhor condição", contou, ao revelar que ele
intermediou o apoio dos políticos a Vieira. Na eleição deste ano,
conforme o empresário que é considerado um dos homens mais ricos do
Estado, a intenção de Vieira era apoiar a candidatura de Escórcio
"pedindo votos".
O empresário diz que conversou com Vieira uma hora antes de ele ser
capturado pela Polícia Federal.
O suplente de deputado teria justificado
ao sócio que o dinheiro encontrado em sua conta (cerca de R$ 30
milhões) era proveniente da venda de um terreno. "Ele ficou sabendo que
sua conta foi bloqueada pela Justiça e me contou que era dinheiro da
venda de um lote. Uma hora depois ele foi preso." Conforme o empresário,
contudo, o sócio não teria condições de comprar um terreno por valor
milionário. "Só se ele comprou para pagar depois."
Pedro Espírito Santo confirmou, ainda, que o suplente de deputado
comprou um avião monomotor, segundo ele, por R$ 380 mil. A PF apreendeu o
monomotor durante a busca e apreensão da Operação Éskhara (ferida, em
grego) deflagrada sábado (18).
Prisões
O suplente de deputado é o único preso até o momento pela PF. Outras
quatro pessoas continuam foragidas. Entre elas: Talles Henrique de
Freitas Cardozo e os irmãos Alberto Nunes Trigueiro Filho e Paulo André
Pinto Trigueiro. Uma quarta pessoa ainda é dúvida para a PF, que
suspeita da possibilidade de se tratar de um outro nome fictício criado
pela quadrilha para lavar o dinheiro. Em nome desta pessoa a PF
encontrou R$ 42 milhões e sete veículos comprados recentemente em
Goiânia (seis Corollas e uma Hilux).
Conforme a investigação, a quadrilha abriu uma conta corrente numa
agência da CEF na cidade de Tocantinópolis. A partir de um bilhete falso
da Mega Sena o gerente liberou R$ 73 milhões para o pagamento do
suposto prêmio. O dinheiro foi distribuído desta conta para outras
dezenas. A reportagem apurou que a quadrilha tentou aplicar o golpe em
outros quatro Estados, mas não conseguiu apoio de um gerente para
fazê-lo. A PF investiga a razão de a CEF permitir abertura de uma conta
com um nome e um CPF inexistente. A CEF informou, por meio de nota, que
identificou a fraude e comunicou à PF.
Um relatório de auditoria da CGU (Controladoria Geral da União)
revelou que a CEF cancelou em 496.776 mil contas correntes e poupança em
2012 que haviam sido abertas com CPFs inexistentes. O caso virou
escândalo porque o saldo das contas foi contabilizado como lucro da CEF,
conforme revelou a revista IstoÉ.
Andreza Matais | O Estado de S. Paulo
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