Patrulhas cibernéticas pretendem combater a
desinformação, uma arma de guerra que agora é usada na internet para
destruir reputações políticas
A atração dos brasileiros pelas redes sociais, expressa nos mais de
67 milhões de perfis cadastrados só no Facebook, ameaça transformá-los
em vítimas de uma guerra suja na internet: o uso da desinformação na
campanha eleitoral para manchar a imagem dos candidatos.
Protegidos pelo
anonimato, os responsáveis farão das redes sociais um terreno fértil
para a divulgação de conteúdo malicioso em perfis falsos. Apreensivos,
os comitês de campanha apressaram-se em criar forças-tarefas para
enfrentar os crimes digitais e tentar removê-los a tempo de evitar um
desastre político.
A desinformação, explicou um oficial do Exército especialista em
inteligência, é considerada uma arma de guerra. Uma mentira bem contada,
garante, pode levar a vítima a tomar outra atitude.
Em eleições
passadas, os candidatos sentiram a força do terrorismo digital. Geraldo
Alckmin (PSDB) foi acusado, nas eleições presidenciais de 2006, de
pretender a privatização da Petrobras. Nas eleições seguintes, foi a vez
da candidata Dilma Rousseff se ver envolvida em boatos de que defendia o
aborto.
Ao migrar este ano da caixa de e-mails para as redes sociais,
que vivem um boom, a desinformação terá agora um potencial de estrago
bem maior.
As campanhas dos presidenciáveis terão grupos para monitorar a
circulação de conteúdos difamatórios nas redes.
O tucano Aécio Neves
será blindado por sete advogados do escritório Opice Blum Advogados,
especializado em direito digital. Já Eduardo Campos, do PSB, vai
reforçar nas próximas semanas a patrulha virtual de seu comitê para
rastrear a boataria.
Foram eles que detectaram, no ano passado, rumores
de que Campos e Marina Silva (Rede) pretendiam privatizar o Banco do
Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES. O PT está criando núcleos de
militância digital nas bases para defender Dilma Rousseff destes
ataques.
O presidente da Comissão dos Crimes de Alta Tecnologia da OAB-SP,
Coriolano Aurélio Camargo Santos, lembra que, por trás de um perfil
falso, existe uma pessoa.
Com técnicas de computação forense, ele
acredita que é possível descobrir em que ponto de conexão estava ligada a
máquina que enviou a mensagem:
— O eleitor não está indefeso. É possível remover quase todo conteúdo
malicioso, por meio de ordens judiciais e de ferramentas específicas. O
caminho pode ser rápido, se a contrainformação for enviada rapidamente.
Não depende de medidas burocráticas, mas de uma equipe de advogados e
especialistas e de tecnologia.
Incomodado com conteúdo apócrifo que o associava ao consumo de
drogas, Aécio Neves cobrou dos Ministérios Públicos do Rio de Janeiro e
de São Paulo, recentemente, medidas contra os supostos autores das
mensagens.
No Rio, uma operação de busca e apreensão teve como alvo
cinco pessoas, entre as quais um prestador de serviços da Eletrobras. Em
São Paulo, as suspeitas recaíram sobre uma funcionária da prefeitura de
Guarulhos, administrada pelo PT.
ACESSO EM MASSA À INTERNET MUDA CENÁRIO
De acordo com o advogado Renato Opice Blum, especialista em direito
digital da Opice Blum Advogados, o pleito de 2014 será um marco divisor
nas eleições brasileiras, já que o país vivencia, pela primeira vez, um
cenário de acesso em massa à internet. A forma de divulgar conteúdos
difamatórios também está mudando. Ele aposta que as redes sociais serão
território fértil para a criação de perfis falsos e compartilhamento de
conteúdo mentiroso sobre candidatos.
Já os e-mails com boatos, típicas
ferramentas usadas para atacar políticos em eleições anteriores, ficarão
restritos a um público mais velho.
— Nesse contexto, a internet vai ter um poder muito importante também
no combate aos rumores e no esclarecimento. É uma eleição na qual
muitas decisões vão partir do Judiciário — afirma.
O funcionário público Alexandre Costa Teixeira, coordenador do Núcleo
de Militância Digital do PT-RJ, disse que, há três meses, o grupo
rastreou nove mil contas falsas, que eram usadas para alavancar
comentários na rede, transformando-os em "trending topics":
— Descobrimos recentemente que estavam associando o Marco Civil
recém-aprovado à censura para tentar atingir a Dilma. Quando isso
ocorre, temos de disparar os antídotos imediatamente.
O promotor Luís Otávio Figueira Lopes, responsável no Rio pela
apuração de crimes digitais, disse que, embora teoricamente pareça fácil
descobrir o autor dos ataques, na prática, pode ser bem mais
complicado, dependendo dos meios utilizados:
— Se o autor possuir algum conhecimento técnico, é possível se
ocultar de muitas maneiras, o que torna praticamente inviável a
investigação.
A repressão, explicou o promotor, tem que ser pontual, para não
implicar no risco de censura. Luís Otávio disse que, uma vez
identificada da ação, a investigação deve ser judicializada por
exigência do Marco Civil da Internet.
Para ele, o que diferencia a
repressão da prática da censura é o fato de que o que se busca reprimir é
a disseminação falsa de informações e não a manifestação do pensamento.
Fonte: O Globo
Fonte: O Globo
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