quarta-feira, 11 de junho de 2014

Socióloga fala de exemplo de Frei Beto e critica silêncio de Padre Paulo diante dos roubos na saúde na era Waldez Góes

A militância política alienada de Padre Paulo e o ativismo emancipatório de Frei Betto

Por Ana Maria Marat/professora de sociologia

O imediatismo é uma praga social. É uma espécie de moléstia que acomete o pensamento lógico, provocando o atrofiamento da visão, desta forma, fazendo com que não se veja além do horizonte ou do que realmente está por trás - de fato e do fato - de algumas compreensões que são de difícil desmonte; sobretudo por encontrarem-se arraigadas no senso comum.

A título de exemplificação, vejamos atitudes divergentes quando ao imediatismo de dois religiosos bem conhecidos: um pelos serviços prestados ao Amapá; o outro ao Brasil - Padre Paulo e Frei Betto.

Padre Paulo é um religioso que vem realizando em Macapá um importante trabalho social, lançando-se numa campanha que reivindica melhorias para a qualidade de vida das pessoas acometidas pelo câncer; chamando a atenção da sociedade para a necessidade de se solidarizar com as vítimas da doença. Além disso, ele luta para que o Estado seja capaz de atender todos os cidadãos ofertando serviços essenciais para a saúde pública – mesmo tendo ciência de que a carência nessa área é um problema crônico do estado brasileiro.

Enquanto Padre Paulo se limita ao assistencialismo almejando o imediatismo, Frei Betto abusa da intelectualidade para conscientizar as pessoas através da literatura, seguindo preceitos religiosos, sobre a importância da emancipação de uma sociedade desigual, e com isso, trabalhando por uma sociedade justa. Diferentes meios para um mesmo fim, o de construir uma sociedade melhor. E por falar em construção, não há dúvidas de que “é mais fácil destruir do que construir”.

Sabemos que hoje é perfeitamente possível demolir em segundos uma casa que tenha levado dias, ou meses, para ter sido construída e, num breve passar de tempo, pode-se observar os destroços do que restou da casa em forma de entulho. Se desejarmos reconstruí-la, levaríamos o mesmo tempo que foi gasto para pô-la abaixo? Certamente que não. Da mesma forma que a casa, não é necessário muito tempo para destruir um Estado; em compensação quanto tempo seria necessário para reerguê-lo?

O exemplo e a pergunta acima cabem perfeitamente para o caso do estado do Amapá, basta atentar-se aos oito anos de saques aos cofres públicos (dos recursos da saúde, principalmente), de 2003 a 2010, em que o Estado passou por anos de destruição – o mesmo se pode aplicar à saúde pública municipal.

Restam uns pontos de interrogação, quanto tempo será necessário para que o Estado possa reconstruir e recuperar o potencial estatal? Não seria preciso no mínimo o mesmo tempo que se levou para destruí-lo?

Retornando à contradição dos religiosos, Frei Betto com sua teologia que liberta e sempre atuando em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares, sabe que somente através do comprometimento com uma educação perene e cotidiana – o que chega a transcender a compreensão imediatista - tornará sua preocupação realizável.

Já Padre Paulo com seu anseio de retorno imediato – de certa forma alienado- fica cada vez mais distante de seu objetivo, pois o imediatismo torna essa meta – por mais que repleta de boa intenção – irrealizável, inviabilizando sua concretização tanto a médio quanto a longo prazo.

Provavelmente, porque este careça de mais erudição para compreender a realidade e a engrenagem política que move os interesses escusos de certos agentes políticos; enquanto Frei Betto trabalha justamente para a emancipação incondicional, absoluta e completa do ser humano. Distante de parecer ofensivo à figura do trabalho social do Padre Paulo.

O que corrobora para a contestação da figura social do padre é ele se deixar usar como ferramenta pontiaguda por aqueles que, pela chapa da corrupção, sucatearam o Estado, principalmente em relação à saúde pública; o discurso do religioso soa a favor da volta (ao atraso) daqueles que destruíram vidas com consequências inegáveis e catastróficas, sentidas até os dias de hoje, inclusive pelos portadores de câncer.

O ideal seria a figura de um Padre comprometido com uma política coerente, mais do que isso, que esclarecesse os ensinamentos do político nazareno, sobretudo, seguindo os passos deste homem que sempre esteve a favor dos mais fracos e oprimidos, e não em apoiar aqueles que sempre lutaram em defesa dos próprios interesses, deixando o povo a Deus dará. Aí reside o maior pecado do padre amapaense.

Frei Betto foi um entusiasta que junto de Betinho e de Lula concebera o programa Fome Zero, mas percebendo o rumo que o governo tomava perante o poder econômico, Frei Betto sentindo sua convicção contrariada, não tardou em se afastar da figura do então presidente.

Aqui, uma reflexão imprescindível para o julgamento destas linhas. Enquanto frei Betto afastava-se de Lula, onde estava Padre Paulo nos anos de sucateamento da casa de saúde? Por que nessa época ele não manifestava seu descontentamento nos meios de comunicações da elite amapaense?

Como se explica a inércia do religioso diante do sofrimento das pessoas que naquele momento encontravam-se acometidas pelo câncer?

Que subterfúgio anestesiou o Padre nesses anos em que os recursos para a saúde, inclusive para o Hospital do câncer, estavam sendo extraviados para a conta de pessoas saudáveis fazerem fanfarras com as verbas públicas?

Hoje, diante de um Estado que se recupera de longos anos de padecimento, de um Amapá em reconstrução, é perfeitamente compreensível, por mais difícil que seja, que as entidades de caráter civil tenham que trabalhar sem contar com recursos que devem ser destinados exclusivamente à saúde pública.

Caso contrário, o envio desses recursos não seria um recibo do descalabro do Estado?

Às vésperas de um novo pleito, é hora de levantar a voz e tomar partido, acendendo as velas para Deus ou para o Diabo.

Caso vença o candidato do senador maranhense nas eleições de outubro, o Padre Paulo com seu apoio notório terá contribuído para isso.

Diante deste possível desastre, segue o questionamento. O Estado passará mais oito anos enfermo?

Sendo o novo governador um boneco de ventríloquo do senador maranhense, ainda que o Padre tenha o mesmo vigor para denunciar os problemas da saúde, ele terá vez e voz nos meios de comunicações controlados pelo ilustríssimo senador?

Neste momento de decisão e renovação, só nos resta uma evocação, que Deus ilumine a cada um de nós!

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